11/06/11

MORREU O AÇORIANO

Soube quarta-feira passada (8-6-2011), que um dos meus carrascos no presídio na António Maria Cardoso, entre o dia 17 de Abril de 1969 a 22 do mesmo mês, um tal Francisco Vasco, mais conhecido por "Açoriano", morreu. Não sei a idade do sabujo, talvez oitenta, oitenta e cinco no máximo. Só lhe desejo que a terra lhe seja pesada, não tenho pena nenhuma, tanto mal me fez que morreu primeiro que eu, ainda bem. Era um gajo baixo e cabeçudo (tinha a cabeça desproporcionada para o corpo), usava suspensórios e andava sempre de gravata preta e camisa branca, que nunca mudou enquanto lá estivemos, tinha maus instintos e dizia à boca-cheia que quando esteve em Angola arrancou e comeu uma orelha a um preto.   

Foi este tipo que nos deu as "boas vindas" depois da GNR nos ter transportado do Barreiro (onde vivia), para a PIDE. Foi este tipo que não nos deixou cagar durante três dias, nem sequer lavar a cara ou fazer a barba, apenas nos deixava urinar num balde que só era despejado depois de cheio. Na primeira refeição que nos serviu deixou cair propositadamente a bandeja no chão, dizendo-nos que se descuidou e se quisesse-mos comer tinha-mos de o fazer do chão. Uma besta, um bandido, um enormíssimo filho de puta. 

Nunca mais soube do filho-de-puta, provavelmente voltou para os Açores, um camarada de presídio, mais atento as estas coisas, fez-me chegar a alegre notícia.

Nesta aventura estivemos juntos na António Maria Cardoso, oito camaradas, eu e outro fomos para Caxias mais dois meses e meio, os restantes seis foram libertados.